quarta-feira, 29 de julho de 2009

Cachorrada

Marcos tinha um problema, um problema enorme, talvez até mesmo insuportável para a maioria dos homens: Aos 35 anos estava impotente. Um brocha.

Tal problema havia começado uns seis meses antes. Os médicos não encontravam nada de anormal com sua saúde, e mesmo que houvesse algo errado com seu organismo, não poderia tomar a maravilhosa pílula azul, por conta de uma arritmia cardíaca, herdada do pai. Velinhos de oitenta anos estavam por aí com o pau duro feito uma rocha e ele nada.

Todos sempre recomendavam a mesma coisa, um psicólogo. Tentou de tudo, prostitutas, simpatias e até garrafadas milagrosas de um pajé que prometiam levantar até defunto. Nada adiantava.

Teve que se render e há duas semanas começara a terapia, mas ainda sem resultados.


Não havia causa aparente, para tal tormento. Estava em boa forma física, se alimentava bem. Tinha um bom emprego com um bom salário. Apesar de formado em engenharia, trabalhava com vendas. Adorava o que fazia achava que era a sua vocação. E já era um dos mais novos gerentes da empresa. Estava perto de quitar o apartamento de três quartos que comprou quando se casou com Cláudia.


Sua esposa era bonita é só melhorou com a idade, formada em pedagogia era diretora de um colégio no mesmo bairro em que moravam. Cláudia se mostrava extremamente compreensiva e paciente com seu estado. “Isso deve ser estresse... A competitividade na empresa, é só relaxar que passa. Você precisa de férias”.


Agora mesmo ele estava tentando meditar, uma técnica que Cláudia aprendera com seu professor de Ioga. Estavam em silencio sentados com a coluna ereta, as pernas cruzadas uma sobre a outra e os braços pousados sobre elas. Tentando afastar todos os pensamentos, devia se concentrar em uma bola de luz azul, ou verde. Não conseguia se lembrar. Sempre que parava para meditar, uma coisa o atormentava: Sempre imaginava sua mulher fazendo sexo com outros homens. Ora bolas, que mulher consegue ficar seis meses sem sexo? Nenhuma mulher seria tão compreensiva se não estivesse dando para outro.

Esses pensamentos o atormentavam. Imaginava ela com os professores da escola, com algum garotão da academia de ginástica, talvez até o professor de ioga. Já a imaginara até mesmo com o seu João, o porteiro do prédio.

Porém Cláudia, nunca havia dado motivo para que ele desconfiasse dela, já tinha seguido, ligava várias vezes ao dia e ela sempre o atendia. Estava sempre nos lugares que dizia estar. Nunca a pegava em contradições ou em atitudes suspeitas.

Só que ele não conseguia tirar aquela idéia da cabeça.


Estava lá. Parado, de olhos fechados, sentindo uma puta dor nas costas e pensando em outro comendo a sua mulher. Se sentiu o mais idiota dos homens.

Se levantou dizendo para a esposa que iria sair para dar uma caminhada, calçou os tênis de corrida e saiu.


O exercício se mostrou tão inútil quanto a meditação. Continuava a pensar a mesma coisa: Cláudia está conformada e compreensiva demais. Só podia estar com outro. “Deve ser aquele professor de matemática, aquele negão deve ter uma pica enorme”. E imaginou sua esposa fazendo as maiores obscenidades com o tal professor. Logo a coisa foi piorando, já a imaginava dando conta de dois homens ao mesmo tempo. Aquilo estava enlouquecendo-o.


Então lhe ocorreu uma idéia para tirar realmente a prova sobre a fidelidade de Cláudia. Ligou para um grande amigo de infância. Luís, conhecido pela turma do futebol como Lula Cachorrão. O cara era boa pinta e tinha fama de pegador, fazia sucesso com a mulherada.


Horas depois estava sentando com o Lula no balcão de um boteco. Contou toda a estória para ele, inclusive sobre sua condição de brocha.

– Que isso cara! A Claudinha é uma mulher legal, bonita, companheira pra cacete. Eu mesmo se tivesse encontrado uma assim já teria casado – O amigo tentava apazigua-lo.

Não teve jeito, Marcos propôs um plano ao Lula: Convidaria o amigo para um jantar em sua casa. Depois inventaria uma desculpa para deixa-lo a sós com Cláudia. Aí era só o Cachorrão usar todo o seu charme.

Lula se negou, chegou mesmo a ficar nervoso e irritado. Mas Marcos foi insistente, dizendo que a amizade deles dependia daquilo, não podia mais viver com a dúvida a respeito de Cláudia. Diante da insistência do amigo, Lula mesmo contrariado aceitou.


Não houve dificuldades em convencer a mulher do tal Jantar. E logo estavam os três reunidos na casa de Marcos, numa quarta-feira após os expediente. Cláudia era uma ótima anfitriã, o jantar estava perfeito, desde a decoração da mesa até a refeição em si.

O plano foi posto em prática:

A secretária de Marcos ligou, ele cinicamente se desculpou com Lula, precisaria sair e provavelmente passaria toda a noite na empresa resolvendo um problema. Insistiu para que Cláudia fizesse companhia ao amigo durante o jantar. A esposa, muito educada, não iria se recusar.

Saiu com o carro. Iria até o cinema assistir algum filme, poderia demorar umas três horas para voltar em casa, seria suficiente. Meia hora depois: Temor, suor e um aperto na boca do estômago.

Foi assaltado pela duvida. Passou a desconfiar do Lula. Serie ele tão amigo assim?

E se Cláudia caísse na conversa dele, o Cachorrão não iria resistir, ia pegar sua mulher ali mesmo em sua própria casa. Lula era um filho da puta comedor, disso não tinha dúvidas.

As imagens de Cláudia e Lula transando em todos os cômodos do apartamento invadiram sua mente. Pirou. Estava certo de que aquilo estava ocorrendo naquele exato instante. Se sentia estúpido.


Acelerou de volta para casa. Ansioso parou o carro na garagem de qualquer maneira, praguejou contra a demora do elevador. Entrou vagarosamente pelo corredor do seu andar, abriu a porta com cautela. Nesse curto período de tempo já visualizara Lula e Cláudia sobre o sofá inúmeras vezes, tinha certeza de que estariam lá, nus e engatados um no outro.

As luzes estavam acesas, a mesa do jantar ainda não havia sido retirada, os pratos estavam com a comida pela metade. Caminhou sem fazer barulho, deviam estar no quarto, na cama, e a imagem se fez em sua mente. Ele sentia que as batidas em seu peito faziam mais barulho que os seus passos.

Encheu-se de coragem e abriu a porta do quarto de uma só vez.


Cláudia estava lá, vestida da mesma forma de quando ele saiu. Chorava. Parecia aliviada ao vê-lo.

Contou sobre as cantadas de Lula, de como ela havia sido baixo em usar o problema de impotência para tentar convence-la a ficar com ele. Falou como Marcos havia sido tolo e leviano ao comentar os problemas íntimos deles, com amigos pouco confiáveis. Xingou Lula com palavrões que ele nunca tinha ouvido saírem da boca dela.


Marcos se sentiu um mistura de culpa e decepção, suas certezas caíram por terra. A culpa falou mais alto, quando ela ameaçou espalhar por toda cidade, o canalha que Lula era. Não podia deixar o amigo se queimar sozinho. Confessou todo o plano e tudo que o motivara a fazer tamanha imbecilidade.

Cláudia se mostrou chocada. Ouvia tudo com uma indignação crescente, até que começou a esmurra-lo e empurra-lo, ele tentava se proteger e esquivar dos golpes soltando patéticos pedidos de desculpa. Chegou a ajoelhar-se, mas não adiantou. Ela conseguiu expulsa-lo do quarto e trancar a porta.

Ele ficou parado no corredor, ainda tentou por alguns minutos faze-la abrir a porta. Não teve sucesso. Foi até o lavabo, abriu a torneira da pia e lavou o rosto. Estava tão convicto da traição dela. As imagens da esposa e do amigo fazendo sexo ainda não tinham abandonado sua cabeça.


Cláudia descolou o ouvido na porta, quando se certificou que o marido havia deixado o corredor. Pegou o celular e discou, a alguns quarteirões dali em um bar Lula atendeu.

– E aí, o que aconteceu?

– Tudo certo. Eu te disse que controlava a situação. Agora podemos nos encontrar a vontade que ele não vai nem desconfiar. Sorte nossa ele ter escolhido logo você para esse plano maluco.

– Você é muito louca, se arriscar assim. Coitado do Marquinhos está perdido. Ainda me chamam de cachorrão, a grande cachorra é você.

– Au, au, au – Ela latiu e gargalhou.


No lavabo Marcos estava gemendo de prazer, era sua primeira ereção em meses... Tinha conseguido ao se masturbar, excitado, imaginando Lula comendo sua esposa.

2 comentários:

  1. Apesar de DETESTAR mulher metida a santa, acho que Marcos, por ser escroto desse jeito, não era pra ser casado com Cláudia, era pra ser casado com Solange.

    http://www.youtube.com/watch?v=9YdRnXcAqxU

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  2. ela, uma verdadeira cachorra e ele um verdadeiro corno manso e quem se deu bem na história foi Lula, o amigo comedor e confidente. muito bom o conto!
    bjs

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