terça-feira, 18 de agosto de 2009

Retorno

Era estranho estar ali.
Dobrou uma esquina o coração aos pulos. Havia tantos anos, tomou consciência do tempo que passou longe. Finalmente...
Parou e aguardou a passagem de uma boidada. Vagarosos os animais passavam por ele, não havia pressa. Tentou conta-los para se distarir, não consegiu. O boiadeiro montado em seu cavalo tocou o chapeu: “Tarde”. Apenas acenou a cabeça em reposta ao cumprimento.

Desviou das fezes no caminho deixadas pelas vacas e continuou descendo a rua. No final dela, a mesma praça de sua infância, com os mesmos bancos de madeira gasta, as mesmas árvores. lembrou de Clara, lembrou de Isabel e das saídas da missa. A velha igreja estava lá, ainda com o campanário dominando a paisagem. Porém havia algo de diferente nela, mas não sabia o que era. Talvez fosse apenas a perspectiva diferente, o olhar de adulto. Ela parecia menor do que nas suas lembranças de menino. Antes enorme e alta. Hoje acanhada se comparada com as coisas que já vira nessa vida.

A praça ficou para trás, o coração sem encontrar compasso, palpitando. Passou por um bando de crianças correndo. Era fim de tarde e as pessoas saiam para a rua, os mais velhos em cadeiras nas calçadas. Uma brisa suave e quente. “Vai chover hoje” ouviu alguem dizer.
Achou que passaria despercebido até ouvir uma voz cansada dizer: "Ê, Tunim, não pede a bença?" Os olhos nublaram, "Bença, madrinha". A velha abençoou e seguiu seu caminho. Ele a viu atravessar a praça. Parecia não reparar que ele estive fora todos aqueles anos ou os anos simplesmente não passaram por ali.

Chegou no portão, ajeitou as roupas sacudindo a poeira da viagem, pegou um lenço, secou o suor do rosto, bateu palmas. Veio a tia vestindo preto uma vela acesa na mão. O cachorro veio atrás, rosnando desconfiado. "Fez boa viagem, meu filho?" O nó na garganta ficou apertado. Pigarreou para tentar achar a voz. "Fiz sim, minha tia... Ela tá lá dentro?"
Estava.

3 comentários:

  1. Achei o final meio "coito interrompido".

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  2. Belo texto!
    Ao ler, cada detalhe nos leva à cidade, parece que estamos seguindo o trajeto com o personagem...
    O final dá um gostinho de quero mais... vai ter continuação?
    (desculpe, viu, chego assim invadindo sua casa e já dando palpites...)

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  3. voltar é sempre estranho, ou pq paramos no tempo ou pq o tempo parou a cidade, mas independente disse, sempre chega a hora de voltar, e por vezes a volta é dolorosa.
    beijos

    [vi você lá na Menina]

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