sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Do alto

As turbinas roncaram, a aeronave acelerou e, de repente, estávamos voando, um monte de desconhecidos reunidos ganhando o céu, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Eu pensando que se o avião caísse, provavelmente iriamos todos morrer juntos. Talvez, nesse instante da queda, nos abracaríamos, faríamos declarações de amor à vida e ao próximo, numa lamentável e patética união, só alcançada diante da morte iminente.

E lá embaixo estava a cidade, planície e mar. Olhando em terra só horizonte, horizontal. Do ar, via apenas minúsculas pessoas e carros transitando por uma malha de edificações, onde vidas são vividas e a maioria delas não se mistura. E lá, deixo uma minúscula partícula se comparada à cidade, mas imensa parte da minha vida.

Lá sei que minha ausência, não fará falta a ninguém, Com exceção daquela lindinha que deixei para trás, depois de juntos compartilharmos alguns poucos e saborosos dias. Mas até ela, se quisesse, esqueceria de mim com o tempo e a distância, guardando, na melhor das hipóteses, apenas uma bela lembrança.

Fazendo ou não diferença a minha presença ou não naquela cidade, senti no momento da partida, a ausência do não vivido, daquilo que poderia ter sido, caso não tivesse que partir, caso pudesse viver de verdade naquele lugar, ou melhor ainda, caso pudesse viver uma vida diferente. E pela qual pagava na despedida um alto preço. O preço da tristeza inexplicável, da dor incontrolável e absurda, por justamente não ser a falta do que passou, mas ser a dor do não vivido – uma pequena morte, ainda mais latente que um dia a menos em nossa existência...

...Nuvens, céu, sol, terrenos diferentes. Uma parada numa outra cidade. O Avião esvazia, eu fico, novas pessoas entram. Um jovem casal a quem eu cedo gentilmente o lugar para poderem viajar lado à lado de mãos dadas... Sorrio por empatia e com uma pontada de inveja. São só pessoas continuando com suas vidas independentes, todas insignificantes como a minha.
Novo ronco, aceleramos mais uma vez, fomos ao ar novamente, outras nuvens que parecem as mesmas, monotonia... Cochilei...

...Montanhas familiares, mar familiar. Lar?
Me lembrei então de como gosto desse lugar, e que geografia não importa tanto. Não é o ponto é a distância. Na cidade horizontal e ortogonal ou na ondulada e labiríntica, melhor juntos do que separados.

Novamente pensando no ainda não vivido. O chão se aproximava.
Quantas vidinhas pequenas se espremem, vem e vão, em diversas direções conhecidas no relevo acidentado de tão maravilhosa cidade? E se cruzam e se encontram e desencontram e se perdem em seu transito caótico, sem que a esmagadora maioria se importe ou perceba tanta vida ou tanta morte?

Cada momento morre quando nasce, não adianta se nele se fala ou se cala. E ali do alto, eu pensava somente em conhecer, partilhar, me aprofundar em apenas uma vida... A dela.

5 comentários:

  1. Se eu fosse você parava com esse nhenhenhe todo e casava logo com ela.

    ResponderExcluir
  2. Sabia que você não é a primeira pessoa a me dar esse conselho?

    ResponderExcluir
  3. É que o amor talvez seja destas poucas coisas que se ganha ao se perder. Então ame e voe porque sim, todo momento morre e novamente renasce e no amor um segundo é prá sempre e nele, tudo é nada e nada contém o amor.
    Viu, lero lero sobre o amor é meio assim - do nada prá lugar nenhum.

    Beijo Fábio.

    (P.S. Estás lascado meu chapa. Se este texto for contexto, Tu ama essa mulher e casa vai. Perde tempo mais não.) hehe

    ResponderExcluir