domingo, 26 de setembro de 2010

À primeira vista

Aconteceu numa blitz de rotina. Ele encostou o carro sem demonstrar qualquer preocupação, foi solícito e simpático ao apresentar os documentos. À primeira vista tudo certo, mas mesmo assim o policial achou por bem revistar o carro. O rapaz não viu problema algum nisso e sem protestar permitiu a revista. Tudo aparentemente normal até que o policial pediu que abrisse o porta malas. Ele obedeceu prontamente, foi então que as coisas começaram a ficar estranhas.
Para surpresa do policial havia um cadáver na mala do carro. Era o corpo de uma garota confortavelmente deitado sobre almofadas e edredons.
O Rapaz permaneceu estranhamente calmo e com uma tranquilidade perturbadora respondeu a todas as perguntas dos policiais.
Explicou que o a garota era sua namorada e a transportava dessa maneira, porque assim ela se sentia bem mais confortável. Quando perguntaram como ela tinha morrido, ele respondeu que não sabia, porque quando a conheceu já estava morta. Ao olhar a face incrédula dos policiais, não se perturbou e ainda acrescentou que apesar de calada ela era muito divertida e uma ótima companheira.
Antes de encaminha-lo para a delegacia, ocorreu uma última pergunta ao policial: Como foi que se conheceram?
O Rapaz deu um sorriso radiante e seus olhos brilharam enquanto sua mente o levava de volta àquele dia glorioso. Inflado pela nostalgia, respondeu que haviam se conhecido num funeral, foi amor à primeira vista. Viu-a ali tão linda, tão suave, deitada e rodeada por flores. Não teve dúvidas, tomou-a nos braços e fugiram.

9 comentários:

  1. De fuder, Fábio.
    Um dos melhores que li por aí.

    abraço

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  2. Fábio!
    Li e fiquei pensando... quantas vezes a gente ama coisas assim: que já estão mortas, que já não cheiram bem... Tudo pq são lindas demais e não temos coragem de enterrar...

    Lindo!

    beijo!

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  3. Surreal!
    Eu escreveria laudas sobre os mortos vivos, mas você foi impecável.
    Muito, muito bom!


    beijos

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  4. Opa, isso é que é amor. Mto bom o conto.

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  5. Gosto muito de textos assim,que vc fica imaginando como vai ser o final e nunca é como pensamos.
    Tão dificil mesmo enterrar coisas que já se foram,sem volta.Amor assim,são raros.
    Muito bom,bjsssss

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  6. A gente guarda esqueletos no armário, e pior, dormimos com eles.

    grande abraço, Fábio

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  7. eu poderia lançar 1000 piadinhas de humor negro (isso seria bem típico da minha pessoa) mas o texto é tão bom, próximo do sublima, que até me emocionou.
    lindo, parabéns.

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  8. Pô Fabião. Conhecemos esse seu lado só hoje, viu?

    Sensacional a atitude tranquila do rapaz.

    Abraço!

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