domingo, 24 de julho de 2011

Linha

A linha não tinha cor definida, impossível dizer se era azul ou cinza, ou outra cor qualquer que fosse. Brilhava, mas era um brilho estranho, meio embaçado... Antigo. Também não se percebia começo ou fim, estendia-se para além do olhar. Não era reta, mas sua curvatura não era constante, não era fixa, parecendo ondular ou vibrar. Era tão diferente que chegava a iludir os sentidos, não tinha cheiro, pelo menos eu não senti nenhum, e embora parecesse zumbir não emitia sons.

Tentei toca-la, mas não a alcançava. Prendi a respiração, tomei distancia, corri e saltei o mais alto e distante que pude... Consegui! Tinha passado para além da linha. Com certo receio avancei um pouco explorando o novo território, mas quando virei para trás a linha não estava mais lá, havia desaparecido. Não havia referencia, eu estava perdido.

Foi só então que me dei conta do risco, aquela não era outra senão a tênue linha que separa a normalidade da loucura. Frágil e inconstante limite entre dois mundos.

Tentei manter a calma. Primeiro olhei em todas as direções para confirmar o seu desaparecimento. Depois revirei os bolsos, não sabia muito bem o que procurava, mas achei. Uma caneta Bic com a tampa mordida... Não me pertencia, mas, por uma dessas confusões comuns do dia a dia, havia colocado no bolso em algum momento do qual não me lembrava.

Com ela tracei uma nova linha, o mais parecida com a primeira possível, atravessei-a. Respirei aliviado tinha conseguido regressar do lado de lá...

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