Jurandir, era mais conhecido no loteamento como Jura, figura temida em toda região. Matador que aterrorizava o local com sua própria justiça, ex-policial vivia de bicos como segurança e de doações extorquidas dos comerciantes da região.
Semana passada mesmo havia queimado três moleques que tentaram montar boca de fumo na quadra cinco. Todos sabiam que era filho e protegido de Exu, frequentador do terreiro de Pai Mariano e corria o boato de que dava o sangue de suas vítimas para o Santo, diz-se até que tinha o corpo fechado.
Há uns três meses montara casa para Kelly, menina de dezesseis anos, filha de Seu Paulo mecânico.
O pai da menina tentou protestar quando soube do engraçamento da filha com o homem de fama ruim. Jura entrou na casa do sujeito chutando a porta e tomando a menina pela mão, instalou-a numa casa duas ruas depois da qual morava sua esposa Irene.
Havia acabado de tomar algumas doses de cachaça no boteco do Chicão e exibia seus dentes de ouro num sorriso largo. Levantou-se meio trôpego as guias no pescoço balançando. Raramente pagava a conta, ficava como desconto pela taxa de segurança.
Chegou na casa de Kelly trocando as pernas. Encontrou a menina sentada no sofá assistindo TV. Um short curto e um top mal lhe cobriam o corpo franzino mas bem formado. Caiu em cima dela enfurecido de excitação, com dois movimentos a despiu, Abriu-lhe as pernas e penetrou furiosamente. Cinco estocadas e gozava satisfeito o bafo de cana saindo do sorriso dourado. Girou para o lado, escorregou e sentou no chão apoiado no sofá. Ela deitou-se e começou a mexer nos cabelos ralos dele.
Com voz doce soltou a bomba:
- Acho que tua mulher não te respeita mais.
- Como é?
- Dizem por aí que ela anda muito na igreja do pastor Cláudio, falam até que ele anda na sua casa.
Ela mal terminou a frase e levou uma bofetada na cara.
- Minha mulher há tempos freqüenta essa igreja. Tu não vem me criar intriga porra, que te arrebento os dentes!
Saiu novamente, sentindo raiva e uma ponta de dúvida no peito que só aumentou ao ver o Pastor Cláudio na portão de sua casa conversando com Irene. Só com olhar demonstrou que não estava gostando daquilo. O Pastor logo tomou seu rumo.
Mal entrou e a mulher começou:
- Jurandir, tu não pode continuar bebendo tanto assim - Jurandir isso Jurandir aquilo.
- Tu tem que ir na igreja... Jurandir para de bater tambor naquele saravá lá... Isso é coisa do Demo.
- Mas que saco, mulher! Não implica com minhas coisas. Tu tá com medo de algum Espírito me contar algo é?
- Não temo essas coisas do tinhoso não, o Espírito Santo é mais forte do que qualquer outro.
- Deixa estar que o que tá escondido logo aparece.
Naquela noite, no terreiro de Pai Mariano, foi alertado por um caboclo, de que o Pastor estava em sua casa naquele exato momento. Não teve dúvidas e partiu enfurecido.
O dedo nervoso no gatilho da arma atirou no vira latas, que começou a latir no portão, de tanta raiva que sentia. Chegou quase botando a porta abaixo. Surpreendeu a mulher o pastor e mais meia duzia de senhoras chorando.
- Tanto berreiro por que? Tão perdendo a fé em Deus, ou alguem aqui já sabe que vai morrer?
Ele não sabia porque mas tinha que matar alguem, não havia flagrado nada. Só estavam ali rezando mesmo, mas sentia que o Santo queria sangue.
O Pastor, a esposa e as Beatas começararm a orar fervorosamente, pedindo misericórdia à Deus.
Por fim não tece coragem de atirar em ninguém. Todos ali de joelhos num misto de oração e choro, uma barulheira de doer os ouvidos. Atirar em gente rezadeira poderia acabar em dívida com o Capiroto.
Mas a vontade de largar o dedo no gatilho não passava, saiu e deu mais um tiro no cachorro, pegou uma faca e recolheu o sangue dele numa bacia e voltou ao terreiro disposto a engabelar o Santo.
Já não sabia se era Espírito ou não, Só viu pai Marino com os olhos revirados na maior agarração com a amantezinha Kelly.
A Coragem que faltou em casa despertou ali no terreiro, meteu a arma no meio dos olhos brancos do velho e disparou um tiro abrindo-lhe a cabeça, na menina que tentou fugir deu mais dois pelas costas.
Se foi tramóia mal sucedida de Pai Mariano que era desafeto declarado do Pastor Cláudio, nunca se saberá. O fato é que o Santo não se deixou enganar e o sangue do cão não bebeu mas teve sua sede saciada. E Jurandir saiu satisfeito tendo cumprido sua parte fornecendo o sangue humano prometido.
Conto Desencanto
Há 7 anos
Parece estranho mas há quem creia no sobrenatural que comandaria muitos crimes. O fato é que 'santos' não vão para os presídios.
ResponderExcluirUm conto pesado mas que em certo sentido, bem poderia ser real.
Abraços, Fábio.