terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Calada

Bati muito nela mesmo, dei porrada com cabo de vassoura até ela apagar, depois catei uma faca e sangrei o vira lata dela. Era muito ódio, não foi coisa de pensar não.
Ela só acordou no outro dia, já tava pensando em enterra-la no mesmo buraco que aquele pulguento maldito.

- Você tá bem, mulher?

A danada não respondia. Depois da surra ela passava o tempo toda na cozinha evitando minha presença, nem mesmo na hora da novela ela vinha pra sala. Só abria a boca para dizer se alguma coisa estava faltando em casa, e mesmo assim só falava depois que eu reclamava da qualidade da comida ou da sujeira.

A noite eu tentava me aprochegar. Apesar de tudo ainda tinha necessidade das carnes dela. E a rabugenta fingia que dormia.
Até que um dia não aguentei, encochei ela assim mesmo, afastei a calcinha pro lado e mandei ver. Ela lá, só ficava muda nem reclamava nem nada. Talvez fosse melhor assim, quietinha.
E seguiu-se assim. Eu só pegava ela de lado ou de bruços, a danada se virava para não ter que me olhar na cara. Sempre calada, não soltava gemido, não demostrava tesão nem nojo.

Foi ficando cada vez mais calada, dia após dia, até que me acostumei a ler as expressões dela. Rosto de um jeito, falta carne. Um muxoxo e apontava a despensa era porque faltava feijão ou outro mantimento. Sobrancelhas erguidas apontando queixo pro banheiro, papel higiênico e por assim ia.
Passaram meses e me acostumei com aquilo. Era como ter uma mulher muda. Nem era ruim. Ela cozinhava e limpava bem e ainda tinha uma bunda farta. Não reclamava, nem me incomodava com nada.

Os vizinhos estranhavam a mudança, a quem perguntava eu dizia:

- Isso é coisa da cabeça, ela caiu lavando o banheiro e ficou assim meio lesa, com tempo deve passar.

Deve ter sido mesmo a paulada que dei na cabeça. Me arrependo não, ela mereceu. As vezes penso até se não devia ter matado e enterrado junto com o cachorro. Mas sou temente a Deus e lá na lei dele diz: “Não matarás”.
Sei que Deus também não me condena pelo corretivo que dei nela. Ela também deve saber que mereceu. O que ela fez foi muito errado. Trepar com cachorro não tá certo. Transar com animais é coisa de quem tá com o capeta no corpo. Só podia ser... A pessoa não se da conta do que faz quando tá possuída.
Aquela cena não vou esquecer nunca. Aquilo vai me assombrar pro resto dos meus dias. Chegar em casa e pegar sua mulher engatada com um cachorro é de enlouquecer qualquer um. Enchi ela de paulada e depois furei o bucho do bicho, fiz ele sangrar até morrer.

Já se passou muito tempo, ela nunca mais falou comigo, as vezes quando chego em casa pego ela choramingando ajoelhada em cima do lugar em que enterrei o pulguento, isso me dá raiva, dá vontade de ir lá e acabar com a vida da infeliz.
Mas o que há de se fazer? Afinal, jurei lá na frente do padre, ela é minha mulher.


* inspirada em uma história bizarra que li em algum lugar, queria dar o crédito, mas não lembro.

5 comentários:

  1. Como já te disse a coisa que mais me chocou nesse texto foi o fato dele ainda fazer sexo com ela.

    Muito, muito bom.

    Beijos

    ResponderExcluir
  2. Choquei. Haha.
    Talvez o cachorro a amasse mais, rs.

    ResponderExcluir
  3. Aqui em Marília tem um caso conhecido. Mulher de médico, a perua grudada no cachorro foi levada pro hospital pra tirarem o rex dela. Também mataram o cachorro. O mundo é cão.

    ResponderExcluir
  4. Fábio baixou Nelson e o velho Buck, foi?
    Haha... Tô rindo mas juro teus suspenses cotidianos eram mais convincentes.
    Mas tu escreve bem prá danar.

    Bom Natal, Fábio.
    Feliz tudo prá ti.
    (mas sem porrada, tá?)

    ResponderExcluir
  5. Sabe o que mais gosto dessa história de ter blog? A possibilidade de me surpreender, de conhecer, de explorar. Não só a mim mesma, mas especialmente o "universo particular" dos outros. Sabe-se lá como você chegou ao Impressões, deixou um comentário, eu venho retribuir a visita e me deparo com um texto original, autêntico, vibrante. Linguagem simples, direta, cotidiana. Personalidades desvendadas, desmascaradas. Mensagem mandada.

    Dizem que o bom escritor faz o leitor se encontrar no seu texto. Nem sei se é assim que funciona. Essa coisa de bom e ruim ainda não é algo bem definido na minha cabeça. Sei o que gosto e o que não gosto. E, em geral, nem isso é definitivo. Às vezes, é uma questão de momento, de circunstância. Voltando ao assunto, me vi no seu texto, no homem, na mulher, no cachorro... Deve ter soado estranho isso... eu podia explicar, mas é uma longa história... rs. Por hoje já escrevi demais.

    O fato é que gostei daqui. Muito.

    Ahh... Feliz Ano Novo !!!

    ResponderExcluir