quinta-feira, 1 de abril de 2010

Pedaço do cotidiano

Ele já estava no segundo chope quando ela chegou.

- Oi. - Disse ela e lhe deu um beijo estalado na bochecha.

Ele achou estranho ela parecia fria.

- Vou pedir um chope para você.
- Não, vou querer só uma água.
- Só água?
- É... Nós precisamos conversar.
- Ah Não! DR aqui no meio do bar é foda.

Ela suspirou desanimada e disse:
- Você quem marcou aqui eu falei para irmos para minha casa. Precisamos falar sério.
- Garçom, uma água e uma vodca.
- Vodca? Eu disse que não ia beber!
- É para mim, preciso de algo mais forte, se você quer falar sério, ou vai terminar comigo ou dizer que está grávida. - Silenciou ao notar o olhar irado da namorada.

- E o que seria pior?

Permaneceu calado um tempo, tomou mais um gole de chope e disse:
- Essa é uma daquelas perguntas que qualquer que seja a resposta você vai ficar furiosa comigo?

Ela sorriu desanimada confirmando.

- Então vou esperar a vodca chegar.

Foi como se houvessem apertado um gatilho, ela disparou a falar:
- Você brinca o tempo todo! Só vive em bares, enchendo a cara... É chope na quarta após o futebol, BG na quinta com os amigos da faculdade, hapy hour na sexta com o pessoal do escritório. Quanto tempo não vamos a um teatro?

- Fomos outro dia ver aquela peça. Não lembra? Você me convenceu dizendo que a música era dos beatles e tal. E chegando lá era um monte de viado dançando e cantando.

- Isso foi no início do ano seu idiota! Você só pensa em beber, está virando um alcoólatra

- Que isso! Se eu fosse alcoólatra, teria a coragem de ir trabalhar bêbado.

- E na semana passada?

- Duas caipirinhas na hora do almoço, não deixam ninguém bêbado, e além do mais era sexta-feira.

- Isso não vem ao caso, não importa mais, quero terminar essa relação, você não liga para nada e ainda faz piada, não consegue ter uma conversa séria feito adulto. Não temos futuro juntos. - Ela quase foi às lágrimas.

Ele ficou quieto, o garçom trouxe o pedido. Ele virou o copo bebendo de um talagada só.
Ela, tremendo levemente, tomou um gole da água. Permaneceram ambos calados.

- Pelo menos você não está grávida. - Disse ele por fim.

Ela jogou o restava da água na cara dele, se levantou bruscamente e saiu pisando fundo pelo bar.
Enquanto as pessoas próximas o olhavam espantadas, ele pegou alguns guardanapos de papel enxugou o rosto e pediu mais uma vodca ao garçom.
O fim da noite é bem previsível, ele bêbado pedindo penico.

Uma das vantagens dos bêbados é que eles não tem dignidade.


Texto escrito em 2008 para um outro blog.

4 comentários:

  1. já vi esse filme, só q era ela q bebia demais... depois q terminaram passou a beber socialmente, acho q o problema era ele.

    PS: distância é soda né?
    bjs

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  2. Eu também já vi esse filme... e como!

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  3. hahahaha o final é demais. Eu odeio essas cenas. Mas que elas existem existem. Eu já vi. rs

    Beijo, rapaz

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  4. Olá Fábio! Esta semana estou divulgando uma “nova” postagem. Trata-se de um conto; que na verdade vem a ser uma reedição de meu blog. Sua postagem original ocorreu em 13.02.09; sendo esta a minha terceira postagem no blog. Naquela ocasião este texto não recebeu nenhum comentário. O texto é “O Sr. e o Dr.”. Espero que você, tendo um tempinho, o aprecie.
    Um grande abraço, minha gratidão antecipada!

    Jefhcardoso do http://jefhcardoso.blogspot.com

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