domingo, 21 de novembro de 2010

Domingo

Quase todo dia é desconhecido, já em outros se tem a certeza da previsibilidade... Chatice, mesmice e outras “ices”. Hoje é um dia do segundo tipo, não há nada que pudesse ser feito para que de alguma forma fosse de um céu mais limpo, um dia mais cheio de prazeres. Um dia de ovos de pardal prestes a se abrir no ninho. Ontem mesmo os ovinhos estavam lá.


Besteiras...

Penso nisso só para não impregnar o dia de levianidade, o que me parece uma preocupação bem mais prazerosa do que a dúvida entre mais meia ou uma hora de sono nessa tarde sem graça. O que mais esperar do dia que começa depois do almoço? Um dia que aliás simplesmente não existiu? Melhor tomar um sonrisal porque a náusea permanece grudada no vazio entre a alma e o estômago.

Preguiça?

Para não olhar pra fora do apartamento e me deparar com uma vitrine de desgraças anunciadas ou alguma coisa bucólica e fofa que pode interromper meu mau humor, melhor pensar que ainda é muito cedo e que o mundo lá fora tem algum impedimento à minha integridade como, por exemplo, gente. Pessoas e suas músicas ruins a todo volume, Apresentadores de programas dominicais na TV, e todos os outros.


O ego é uma armadilha.

Quando menos se espera, essa espécie de punheta mental se transforma em mais uma razão para que eu acredite que sou realmente mais sensível do que a maioria das pessoas. É apenas um movimento de auto-comiseração que faz todo o sentido do mundo nesse instante e me enche de alívio por ser ao menos uma explicação pra essa , na falta de palavra melhor, agonia. Sempre foi assim. Prazeres idiotas e pessoas desagradáveis que dão a sensação da morte, da vida se esvaindo como um sopro leve e eu achando graça de tudo aquilo porque com o medo do perigo consolo minha pequeneza, me agracio com meus delírios acreditando apenas na parte da história que me convém. Um dia ou outro isso deve acontecer com qualquer pessoa.


Talvez, quem sabe, só uma espiadinha na janela.

Mas qualquer fresta de luz poderia desmanchar meus planos e convidar-me a espiar o “lá-fora de esquisitices e outras ices” das quais hoje é melhor não tomar conhecimento, principalmente quando um apartamento fica tão próximo um do outro, as janelas da sala frente a frente, a vida privada tão escancarada.


Que se dane.

Abri a janela, os dois ovinhos haviam se quebrado e não estavam mais lá. E mais um domingo começado na metade havia sido cuidadosamente elaborado.

5 comentários:

  1. Belo texto!Parabéns!
    O que esperar de um domingo,a não ser lembrar que tudo começa de novo...
    bjssss

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  2. Desde que comecei a trabalhar aos sábados, atribui valor ao domingo e todas as suas "ices" como analgésico para minha semana de seis dias e as "ites" que elas me causam.

    beijo

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  3. Gostei muito do início deste texto, cheio de altos e baixos.[uma espécie de ressaca]
    Interessante, Fábio, parece que há uns períodos em que o trânsito mental e a confusão cotidiana é algo tão intenso e desordenado que somente ovinhos de pardais para nos lembrar a delicadeza, a liberdade, a vida.
    Gostei mesmo.

    abraços e boa semana!

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  4. sua escrita é fantástica.
    parece estar "vomitando" os sentimentos.
    o rítmo, as palavras, as vírgulas...perfeito.

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