Profissional.
O homem em cima dela suava em bicas. Não era agradável. Sua mente está longe, mas ela geme, diz obscenidades e se movimenta de forma convincente e natural. Não podia ser negligente, era uma profissional que levava o trabalho a sério.
O homem em cima dela suava em bicas. Não era agradável. Sua mente está longe, mas ela geme, diz obscenidades e se movimenta de forma convincente e natural. Não podia ser negligente, era uma profissional que levava o trabalho a sério.
Viu o relógio sobre a mesa de cabeceira, estava atrasada,
precisava terminar logo. Enlaçou-o com suas pernas, fazendo-o entrar por
completo dentro dela. Iniciou uma serie de movimentos, que em meio minuto o levaram
ao orgasmo. Ele desabou e se virou para o lado gemeu
de satisfação.
“Gostou Benzinho?”
“Adorei, dá só uns minutinhos que
a gente repete a dose”.
“Não vai dar”.
“Eu pago, tenho dinheiro!”
“Não posso, meu bem...” Foi interrompida
com um safanão, ele se levantou com dificuldade xingando contrariado. Ela, mais
ágil, ficou de pé antes dele.
“Ô vagabunda, vou foder de novo!
Já falei que tenho dinheiro, porra!” Agarrou-a pelo pulso. O outro braço dela
revirava a gaveta da cabeceira, do meio do monte de camisinhas puxou uma faca.
“Me larga ou te furo todo!”
Ele a largou assustado.
“Se veste e cai fora da minha
casa! Não te atendo mais, nem por todo dinheiro do mundo”.
Ele foi se vestindo
desajeitadamente, a faca ainda apontada em sua direção. Saiu porta afora
segurando as calças que não teve tempo de fechar.
Sentou-se na cama e a faca retornou
para a gaveta.
O relógio, agora tombado lembrou-a
de que precisava se apressar. Entrou no banho. Enquanto o chuveiro derramava
água quente, sua mente foi para o passado:
Conhecera-o numa noite de folga, num forró. Ele a tirou
para dançar, Negro, alto, sorriso bonito, passara dos 40, mas ainda em boa
forma. Dançava bem, começou um papo
furado no seu ouvido, elogios á sua beleza, à sua voz, ao seu corpo. Até que a
música parou e se ofereceu para pagar uma cerveja.
Era garçom e aguardava uma promoção
para maitre. Quando perguntou no que ela trabalhava, não hesitou em responder:
“Sou puta”.
Ele parou o copo no meio do
caminho para a boca: “Como é?”
“Sou puta”.
“Puta?”
“Isso. Puta, faço sexo com
homens por dinheiro, as vezes com mulheres também, mas não gosto muito”.
Ela ficou segurando o riso enquanto
observava sua expressão. Ele tomou um grande gole da cerveja e perguntou com a
maior naturalidade: “E você gosta do que faz?”.
Pensou um pouco e respondeu:
“Não posso dizer que gosto, mas
acabei me acostumando. Paga minhas contas e me dá uma vida confortável”.
Ele pediu outra cerveja. “Mas
hoje você não está trabalhando”.
“Não, hoje estou de folga”.
“Que bom, porque estou sem
dinheiro. Assim ainda tenho chance com você”.
Ela sorriu. Conversaram por
mais um tempo, dançaram mais um pouco e terminaram a noite num motel barato.
“Posso te ligar?”
“Claro”
“Quero te ver de novo, mas não profissionalmente,
quando você estiver de folga”.
Ela sorriu e pensou: Mais um
malandro querendo pega-la de graça, mas por que não? Ele era divertido e se não
viu nada de mal nisso.
Ele a surpreendeu levando-a ao cinema
no segundo encontro. Certo dia estavam num bar, ali no Centro mesmo. Ele parecia
ansioso.
“Quero te falar uma coisa”.
“Então fala”.
“Sou casado”.
Ele estava visivelmente
constrangido, Ela não sabia o que pensar.
“Porque está contando isso
agora?”
“Queria contar antes, você foi
honesta comigo, então achei que devia ser também, hoje tomei coragem e falei”.
Conversaram mais um pouco, ele
contou sobre a relação ruim com a esposa, falou como se preocupava com os filhos.
A sinceridade a fez simpatizar com ele novamente e continuaram a se encontrar.
Afinal ela fazia sexo com homens casados todos os dias, então porque não fazer
também recreativamente, assim ainda evitava cobranças. Ele não era dela, nem
ela dele.
A incomodava um pouco quando ele
a usava para desabafar. Como da vez que contou sobre o amigo que ele mesmo
levara para dentro de casa e que engravidou sua sobrinha e sumiu de vista. Ela não
se sentia confortável quando ele estava triste, apenas o beijava e acariciava,
se não ajudava pelo menos ele esquecia temporariamente dos problemas.
Terminou
o banho e se vestiu apressadamente, desceu para a rua. Havia um movimento
estranho na cidade, ia ter manifestação de novo, agora era isso toda semana. Não era bom morar no centro nesses dias. Tomou
um Taxi, o celular tocou, Era o último
cliente, o valentão. “Sujeito insistente...” Bloqueou o número dele.
Quando chegou ele já a esperava
com uma cerveja pela metade.
“Oi”
Deram um rápido beijo.
“Tenho uma coisa para te contar”.
“Então fala logo”.
“Deixei minha mulher”.
O sorriso dela desapareceu. Ele nunca
disse que estava planejando se separar.
Ele não esperou ela falar: “Você
sabe que não fazia mais sentindo ficarmos casados, o problema eram só os
moleques, mas conversei com eles. Vão compreender”.
Ela continuou calada, assustada
com o que poderia vir a seguir.
“Eu já havia comprado um
terreninho lá em Santa Cruz, já levantei até um barraquinho, hoje vou dormir
por lá. Até o fim do ano uma casinha modesta fica pronta. Você vai morar
comigo, vou te tirar da vida”.
Chegara ao ponto que ela temia.
“A casa só deve ficar pronta no fim do ano,
até lá vamos organizar melhor as coisas, você disse que tinha um dinheiro guardado,
dá para viver até lá...”
Ela o interrompeu: “Mas quem disse
que eu quero morar com você?”
Ele ficou surpreso e irritado.
“Estou falando que você vai ser minha mulher, quero te dar uma vida digna”.
Ela se irritou também subindo a
voz: “Quem disse que a minha vida não é digna? Pago minhas contas não devo nada
a ninguém. Não vou deixar minha vida aqui para me enfiar num barraco no fim do
mundo!”
A decepção era evidente no rosto
dele, ela chegou a se arrepender, não do que havia dito, mas de como havia
dito. Antes que pudesse tentar consertar ele berrou:
“Tu é uma puta mesmo. E é porque
gosta!” Todos no bar se viraram para eles. Ela se levantou e saiu sem falar ou
olhar para trás.
Estava furiosa caminhando rápido,
quando sentiu um puxão no braço.
“Me larga, vê se me esquece”.
“Vou esquecer, mas primeiro vamos
ter nossa despedida, vou pagar. Você não é uma puta? Quero ser seu cliente
hoje.”
Ela percebeu que ele queria
magoa-la. Não daria esse gostinho a ele. Disfarçou a raiva e respondeu: “Claro,
porque não? Você será um cliente como outro qualquer”.
Tomaram um taxi, não se falaram
durante o trajeto. Tiveram que saltar alguns quarteirões antes, as ruas já
estavam tomadas pelas passeatas. “Meu mais velho deve estar aí no meio”. Ela
não respondeu, não se importava com as preocupações dele.
Com dificuldade chegaram até o
prédio.
O porteiro se dirigiu a ela: “Aquele
último senhor que esteve aqui um pouco mais cedo retornou. Esperou por um
tempo, acabou de sair daqui”.
A calma fingida foi para o espaço:
“Se ele aparecer aqui de novo, diga que não vou recebê-lo nunca mais.”
Entrou no elevador bufando.
“Quem é esse que esteve te
procurando?”
“Só mais um cliente.” Gostou de vê-lo
morder os lábios.
Chegaram e foram para a cama.
Ele deitou sobre ela e a penetrou
com violência. Dessa vez sua mente se recusou sair dali, se recusou a não ouvir
quando ele a chamava de puta aos berros. Mas ela se manteve firme o encarando, ele
não conseguiu manter o olhar, saiu de cima dela mandando que se virasse. Ela
virou se oferecendo para ele. A penetrou novamente de forma bruta. Ela
mergulhou a cabeça no travesseiro, mas foi trazida de volta à tona, pois ele a
puxou pelos cabelos.
Enfim terminou. Agora já não
parecia tão irado. Ao encara-lo, ela pensou que talvez estivesse arrependido.
“Vou tomar banho, deixe o dinheiro
em cima da cabeceira da cama, quando voltar não quero que você esteja aqui.”
Mas ao sair do banho, ele estava
lá. Vestido, sentando na cama com a cabeça baixa. Ela se aproximou e ele se
levantou bruscamente tinha uma carteira nas mãos, mostrando a identidade com a
foto do dono.
“Você sabe quem é esse?”
Quando viu a foto ela reconheceu o
valentão, por isso ele havia ligado para ela e retornado até lá, o imbecil
esqueceu a carteira quando saiu correndo.
“Esse é o Tonho, o filho da puta
que engravidou a minha sobrinha. É com esse tipo de merda que você trepa?”
“Eu trepo com quem pagar. Sou puta,
esqueceu?”
O soco atingiu seu olho esquerdo,
ela caiu sobre a mesinha de cabeceira derrubando o móvel.
Ficou tonta, o olho esquerdo
inchara de imediato, não enxergava direito. Caíra de costas no chão, as
camisinhas espalhadas ao seu redor. Percebeu o vulto dele se aproximando, não
deu tempo de saber se para ajuda-la ou agredi-la, seus dedos sentiram o cabo da
faca próximo entre as camisinhas.
Golpeou num reflexo. Sua visão melhorou
e ela o viu sentado na cama segurando a barriga. Assustada soltou a faca vermelha
de sangue no chão.
As mãos dele não conseguiam conter
o sangue que jorrava do ferimento.
“Pega uma toalha”.
Ela e trouxe a toalha. Ele a
pressionou contra o ferimento.
“Me ajuda a levantar, você tem que
me levar para o hospital”.
Ao chegarem ao térreo do edifício,
o porteiro não estava por lá. Na rua uma confusão de gente correndo, fumaça e
bombas.
Não tinha como pegar um taxi, Gritou
por socorro, um bando de mascarados passou por eles correndo, um jovem casal os
viu, mas logo se afastaram assustados. Sem forças ele sentou na calçada, policiais
passaram correndo, mas também não ajudaram. Um grupo de jovens finalmente os
acudiu. “O que houve?” Um deles perguntou.
“Fomos assaltados, o ladrão deu um
soco nela, eu parti para cima do cara e ele me esfaqueou”.
Ela se surpreendeu com a atitude
dele. O abraçou, estava frio e pálido.
Os garotos o levantaram, conseguiram
arrasta-lo até um bar próximo. Ela dava tapas no rosto dele para mantê-lo
acordado, mas insistia em fechar os olhos.
O deitaram no chão, Ele ergueu a
cabeça com esforço, gemeu e a encarou com o olhar desfocado. Junto com o último
suspiro balbuciou: “Eu te amo”.
E ela nunca se perdoou por não
sentir o mesmo.
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